A prevalência de pressão alta em crianças e adolescentes cresce na esteira da epidemia de obesidade infantil, no mundo todo. Nesses grupos etários, os critérios para o diagnóstico costumam basear-se em tabelas obtidas a partir dos níveis de pressão apresentados por milhares de crianças e adolescentes.
Consideramos hipertensão quando uma criança apresenta pressão máxima (sistólica) ou mínima (diastólica) acima de 95% das outras do mesmo sexo, idade e altura. Quando esses níveis caem na faixa dos 90% a 95% mais altos, classificamos como pré-hipertensão.
Para o diagnóstico, a pressão deve ser confirmada pela média de três medições consecutivas, com aparelho adequado ao tamanho da criança e em obediência à melhor técnica (criança em repouso, pernas descruzadas, sentada, com o manômetro insuflado no braço posicionado à altura do coração etc.).
Esses cuidados são exigidos para evitar exames desnecessários e condutas equivocadas. Um estudo publicado em 2012 no Journal of Clinical Hipertension, com crianças encaminhadas para clínicas especializadas, revelou que em 30% a 40% delas a elevação da pressão era provocada pela chamada “síndrome do avental branco”, segundo a qual a subida acontece por desequilíbrio autonômico causado pela intimidação que a figura do médico traz.
Um inquérito populacional publicado em 2013 na revista Pediatrics comparou os níveis de pressão arterial em crianças e adolescentes de diversos países. A prevalência de hipertensão foi de 17,3% no Brasil, 12,3% a 15,1% na Grécia e 13,8% nos Estados Unidos, por exemplo.
É importante identificar precocemente esses casos, para evitar complicações futuras. Estudos mostram que 40% dos adolescentes recém-diagnosticados como hipertensos já apresentam hipertrofia do ventrículo esquerdo, alteração associada ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca.
Aumento da mortalidade, insuficiência cardíaca prematura, endurecimento das artérias e doença coronariana em adultos com menos de 55 anos de idade têm sido atribuídos a níveis elevados de pressão desde a infância e adolescência.
O tratamento da pressão alta dependerá das causas. Se não existirem razões orgânicas que a justifiquem, o primeiro passo é iniciar programas de exercícios aeróbicos, dietas balanceadas (mais frutas e verduras, menos gorduras e carboidratos) e redução de sal. Os resultados são claros: perdeu peso, a pressão cai; ganhou, a pressão sobe.
Quando a hipertensão persiste, está indicado o tratamento farmacológico com as mesmas drogas empregadas no caso dos adultos. Como não existe consenso em relação à melhor terapia inicial, agentes de diversas classes são considerados opções razoáveis.
Manter crianças e adolescentes em dietas restritivas e cobrar deles a disciplina necessária para aderir à prescrição de medicamentos de uso diário não é tarefa corriqueira.
Por Drauzio Varella